31 de julho de 2009

Acreditando no inacreditável


Mas se a arte imita a vida, é importante que sua história seja “crível”.Quando uma pessoa paga para entrar no cinema, é como se ela estivesse comprando um produto, por isso, quer qualidade.

Cinema é arte, mas também deve ser encarado como indústria, pois está em jogo o budget (dinheiro, orçamento) do produtor e patrocinadores.

O roteiro deve mostrar a realidade dos fatos, pois isso dá credibilidade, respeito e seu trabalho passa a ser admirado. Certa vez, falando sobre a construção da personagem, na arte da imitação, Aristóteles disse:

“...se a personagem que se pretende imitar é por si incoerente, convém que permaneça incoerente coerentemente”.

Antes de escrever uma história, pesquise profundamente sobre o tema que vai tratar. Ninguém pode construir um roteiro sem “vivenciá-lo” antes, conhecendo o ambiente ou cenário, as crenças e os costumes da região onde as personagens vivem ou vão atuar.

Mas você deve se perguntar: então por que alguns filmes e personagens como James Bond- o agente 007 fizeram tanto sucesso?

Em cinema, quando os personagens e a ação são fortes e bem estruturados, o público acaba se envolvendo de tal forma com a história ou com o herói, que passa a “torcer” para que tudo se resolva da melhor forma possível. Mesmo sabendo que uma cena é fantasiosa, o público passa a “acreditar” no filme e em seu contexto dramático. É o que Syd Field denomina de “suspensão voluntária da descrença”.

Exemplo: a cena do filme E.T. O Extraterrestre, em que na hora de fugir da polícia e salvar o alienígena esquecido na Terra, as bicicletas das crianças começam a voar. Aliviado, o público aplaude a cena.

Ficção e realidade

Se a arte imita a vida, é importante que o roteiro seja "crível" para ser admirado e o roteirista respeitado. Certa vez, falando sobre a construção da personagem, Aristóteles disse:

"...se a personagem que se pretende imitar é por si incoerente, convém que permaneça incoerente, coerentemente".

Por isso, em ficção, o escritor deve pesquisar muito antes de escrever sua história, para conhecer o cenário onde ela será encenada ou filmada, os costumes do povo, suas crenças e tradições.

Um filme é antes de tudo um produto que deve passar credibilidade. Se a pessoa paga para ir ao cinema, ela quer um produto de qualidade. Se em televisão dá para gravar uma cena de novela dentro de uma cidade cenográfica, o mesmo nem sempre acontece no cinema.

Ex: Não dá para escrever sobre um drama em um campo de concentração, sem jamais ter pesquisado ou visto um. Nesse caso, o cenário tem que ser tão perfeito a ponto de uma pessoa que ali padeceu acreditar que a cena realmente se passou em Auschwitz, por exemplo.

A arte imita a vida

Muita gente conhece esta frase, mas não sabe que, em outras palavras, ela foi dita por Aristóteles, na Antigüidade. O filósofo, grande amante do teatro, dizia: “A Arte imita os caracteres, as emoções e as ações”. Para ele, a tragédia (termo que hoje poderíamos substituir por ficção) “é a imitação de uma ação completa com princípio, meio e fim”.

Ao provocar a compaixão e o temor, o objetivo da tragédia seria, segundo o filósofo, a “purificação” da platéia, que, ao final do espetáculo estaria emocionada pelas paixões encenadas.

Os ensinamentos de Aristóteles chegam aos dias atuais, travestidos de idéias e métodos modernos, quase todos inspirados nos antigos conceitos do pai da Arte Poética, como veremos a seguir.

Dê uma chance ao talento

Neste blog, vou compartilhar com você os conhecimentos que adquiri nos livros de Syd Field, Jean-Claude Carrière, Christhopher Vogler, Doc Comparato, Hugo Moss, entre outros. Estudando a Arte Poética de Aristóteles (384 a 322 a.C.) encontrei os fundamentos básicos da dramaturgia. Por isso, os ensinamentos daquele que Platão considerava o seu melhor discípulo ilustram diversos parágrafos deste blog.

Para ser um bom roteirista não basta fazer cursos, ler livros ou ter uma boa idéia na cabeça, porém saber colocá-la no papel com arte. Portanto, aprenda as ferramentas, coloque a imaginação para funcionar, dê chance ao talento e escreva, ainda que errado, mas escreva! Chegar ao sucesso é um caminho árduo. No livro A jornada do Escritor, Christopher Vogler escreveu:

“É comum que as pessoas pensem no Herói em termos de força ou coragem, mas essas qualidades são secundárias em relação à capacidade de sacrifício – esta sim, a verdadeira marca do Herói”