6 de maio de 2015


Escolhas criativas para fugir do clichê

 Em seus cursos de roteiro, Robert McKee ensina que a boa escrita nunca é de um para um, ou seja, você deve criar muito mais material do que vai usar para preencher a estória. A criatividade deve levá-lo a escrever dez, quinze, vinte eventos para uma escolha. Desta forma, se você está escrevendo uma comédia romântica, fique atento para não usar o que já viu no cinema. Aquilo que é bom e original a mente registra e, se for copiado, o público logo identifica como sendo de outro filme.

Se o seu personagem quer conversar com a garota dos seus sonhos, mas essa não lhe dá a menor atenção, tente criar um evento único e inesperado. Faça o esboço de várias cenas diferentes. Geralmente a primeira ideia é aquela que você já viu, mas pode começar por essa.

1-      Barzinho de jovens solteiros – é clichê, mas não custa anotar.

2-      Lagoa Rodrigo de Freitas - seu personagem luta artes maciais e a ela adora andar de bicicleta? Então ele poderá salvá-la de dois marmanjos que tentam roubar a bike da garota. Além de mostrar sua performance, ele coloca os bandidos pra correr e sai como herói. Difícil não se apaixonar.

3-      No restaurante - na festa de fim de ano do escritório, depois de umas e outras, bêbada, ela entra no banheiro masculino e é agarrada por um engraçadinho. Seu personagem entra, logo em seguida, e a salva das garras do lobo mau. Toda mulher adora homens protetores.

Coloque a imaginação para funcionar e sua lista crescerá rapidinho. Você não precisa escrever cenas completas, só um esboço. Leia e separe as mais verdadeiras para seus personagens e para o seu mundo. Depois, das mais criativas, escolha aquela que você nunca viu no cinema. No entanto, se você acha que a cena do barzinho é a melhor, procure escrevê-la de uma forma que ninguém ainda escreveu. De repente, você mistura as ideias, por exemplo, colocando a situação número três no barzinho de solteiros. O importante é conhecer bem os personagens e surpreender o seu público.

6 de novembro de 2014


Ainda sobre “Tim Maia- o Filme”. Os roteiristas Mauro Lima (diretor) e Antônia Pellegrino mostraram competência ao escrever o roteiro do filme, mas a passagem do menino Tim (Babuzinho) para o Tim adulto (Robson Nunes) foi grotesca. Ou faltou técnica no match cut, ou na edição.

Match cut é a transição que usa um detalhe para avançar no tempo, porém esse recurso deve ser usado com sutileza para não ficar forçado na cena. No filme, o menino Tim pega a marmita para entregar em uma casa e na volta, antes de pegar as marmitas restantes, o ator Babuzinho some como um fantasma e aparece Robson Nunes. Os roteiristas poderiam ter colocado Babuzinho pegando e entregando a marmita na casa, cortava para o detalhe da mão de Tim pegando as marmitas restantes e, na abertura do plano, aparecia o Tim adulto (Robson Nunes).

Match cut que usa a mesma personagem para avançar no tempo deve ser feito com muita sutileza. No filme Titanic, a transição feita por James Cameron usa como detalhe os olhos azuis de Rose ainda jovem (Kate Wislet) e em fusão aparece os olhos azuis da mesma personagem idosa (Gloria Stuart).

Comentário filme O Juiz

The Judce – O Juiz
 Os apaixonados por cinema e pela arte de escrever roteiros não podem perder “O Juiz”, dirigido por David Dobkin. O filme é impecável! As cenas são perfeitas e tão bem posicionadas que é impossível pensar em mudar de lugar ou suprimir apenas uma.
Logo nas primeiras dez páginas, os roteiristas  Nick Schenk e Bill Dubuque apresentam o contexto em que o protagonista Hank Palmer (Robert Downey Jr.) vive. Advogado bem sucedido, Palmer é considerado egoísta e altamente individualista por algumas pessoas. Ele tem humor e uma dose de insensibilidade (é capaz de urinar na roupa do advogado da outra parte), sabe o que quer e não pensa duas vezes antes de jogar na cara da mulher que foi traído por ela. O trabalho excepcional Downey Jr poderá levá-lo ao Oscar de melhor ator em 2015.
Schenk e Dubuque mostram visualmente a incompatibilidade entre o pai e seu filho do meio Hank Palmer. Ao chegar no local do velório, Joseph Palmer (Robert Duval) cumprimenta todos os presentes, menos Hank. É notória a preferência do pai pelos outros dois filhos.
Os roteiristas criam uma forma interessante de mostrar em flashback a relação entre os membros da família Palmer: por meio dos filmes produzidos pelo irmão mais novo Dale (Jeremy Strong).  
Schenk e Dubuque seguem à risca as regras tradicionais que a Academia de Cinema de Hollywood valoriza. Ao retornar à cidade natal para defender juridicamente o pai, um juiz suspeito de assassinato, Hank entra naquilo que Christopher Vogler chama de Mundo Especial para iniciar a jornada do Herói. A volta ao passado, o reencontro com velhos amigos, os irmãos, os antigos costumes de uma cidade do interior, com as situações familiares que o incomodavam e até mesmo o reencontro com uma velha paixão mal resolvida, tudo isso exerce um poder transformador no bem sucedido e insensível advogado de uma grande cidade.
No final da aventura, Hank Palmer se humaniza e é capaz de verter algumas lágrimas, de tentar reviver bons momentos ao lado do velho pai como o passeio de barco na cena final.