6 de novembro de 2014


Ainda sobre “Tim Maia- o Filme”. Os roteiristas Mauro Lima (diretor) e Antônia Pellegrino mostraram competência ao escrever o roteiro do filme, mas a passagem do menino Tim (Babuzinho) para o Tim adulto (Robson Nunes) foi grotesca. Ou faltou técnica no match cut, ou na edição.

Match cut é a transição que usa um detalhe para avançar no tempo, porém esse recurso deve ser usado com sutileza para não ficar forçado na cena. No filme, o menino Tim pega a marmita para entregar em uma casa e na volta, antes de pegar as marmitas restantes, o ator Babuzinho some como um fantasma e aparece Robson Nunes. Os roteiristas poderiam ter colocado Babuzinho pegando e entregando a marmita na casa, cortava para o detalhe da mão de Tim pegando as marmitas restantes e, na abertura do plano, aparecia o Tim adulto (Robson Nunes).

Match cut que usa a mesma personagem para avançar no tempo deve ser feito com muita sutileza. No filme Titanic, a transição feita por James Cameron usa como detalhe os olhos azuis de Rose ainda jovem (Kate Wislet) e em fusão aparece os olhos azuis da mesma personagem idosa (Gloria Stuart).

Comentário filme O Juiz

The Judce – O Juiz
 Os apaixonados por cinema e pela arte de escrever roteiros não podem perder “O Juiz”, dirigido por David Dobkin. O filme é impecável! As cenas são perfeitas e tão bem posicionadas que é impossível pensar em mudar de lugar ou suprimir apenas uma.
Logo nas primeiras dez páginas, os roteiristas  Nick Schenk e Bill Dubuque apresentam o contexto em que o protagonista Hank Palmer (Robert Downey Jr.) vive. Advogado bem sucedido, Palmer é considerado egoísta e altamente individualista por algumas pessoas. Ele tem humor e uma dose de insensibilidade (é capaz de urinar na roupa do advogado da outra parte), sabe o que quer e não pensa duas vezes antes de jogar na cara da mulher que foi traído por ela. O trabalho excepcional Downey Jr poderá levá-lo ao Oscar de melhor ator em 2015.
Schenk e Dubuque mostram visualmente a incompatibilidade entre o pai e seu filho do meio Hank Palmer. Ao chegar no local do velório, Joseph Palmer (Robert Duval) cumprimenta todos os presentes, menos Hank. É notória a preferência do pai pelos outros dois filhos.
Os roteiristas criam uma forma interessante de mostrar em flashback a relação entre os membros da família Palmer: por meio dos filmes produzidos pelo irmão mais novo Dale (Jeremy Strong).  
Schenk e Dubuque seguem à risca as regras tradicionais que a Academia de Cinema de Hollywood valoriza. Ao retornar à cidade natal para defender juridicamente o pai, um juiz suspeito de assassinato, Hank entra naquilo que Christopher Vogler chama de Mundo Especial para iniciar a jornada do Herói. A volta ao passado, o reencontro com velhos amigos, os irmãos, os antigos costumes de uma cidade do interior, com as situações familiares que o incomodavam e até mesmo o reencontro com uma velha paixão mal resolvida, tudo isso exerce um poder transformador no bem sucedido e insensível advogado de uma grande cidade.
No final da aventura, Hank Palmer se humaniza e é capaz de verter algumas lágrimas, de tentar reviver bons momentos ao lado do velho pai como o passeio de barco na cena final.
 

24 de outubro de 2014

Lista de Problemas 1


Syd Field apresenta uma lista de problemas para o roteirista identificar onde está o erro e salvar o seu roteiro.

A ação não tem pausa – o uso abusivo de cenas de ação cansa e acaba dispersando a atenção do público. Essas cenas devem ser intercaladas por outra que Field denominou de consequência cuja função e relaxar a tensão, depois de uma cena dramática, de suspense ou ação. Exemplo: aquela em que a agente Clarice Starling (Julianne Moore) aparece dormindo depois de ser salva por Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), após a dramática cena dos porcos famintos.

 

1 de outubro de 2014

Estrutura e ambiente

É importante observar a relação que existe entre o ambiente e a estrutura da estória. O primeiro define e confina suas possibilidades. Desta forma, o roteirista não pode colocar no roteiro aquilo que lhe vem à mente, ainda que esteja trabalhando com ficção. Ao criar eventos para as cenas ele terá que escolher os possíveis ou prováveis.

Como assim?

O professor de roteiro Robert McKee explica: se a sua estória se passa dentro de condomínios fechados de Los Angeles, certamente, nesse ambiente, não haverá cenas de protestos contra a injustiça social, causando tumulto nas ruas arborizadas. No entanto, o roteiro poderá conter cenas de jantares para arrecadar fundos, com os anfitriões cobrando mil dólares o prato. Se o drama se passa nos guetos do leste de Los Angeles, os moradores não poderão participar de jantares de gala para pagar mil dólares o prato, mas poderão sair às ruas em passeata para exigir mudanças.

Ao criar o seu drama e definir o ambiente em que ele se passa, você estará estabelecendo as leis internas de probabilidade para sua estória.


“A escolha de eventos do escritor, portanto, é limitada às probabilidades e possibilidades contidas no mundo que criou.” – Robert McKee

23 de setembro de 2014

O ambiente da estória 2


Para o professor de roteiro Robert McKee, o roteirista pode escolher um tema para escrever, porém ele deve conhecer profundamente o ambiente da estória para não acabar escrevendo tramas e cenas já conhecidas pelo público (clichê).

McKee explica que o ambiente da estória é quadridimensional.- período, duração,  localização e nível de conflito.

 “Localização é o lugar de uma estória no espaço”

Portanto, localização é a dimensão física da estória, onde ela acontece. Em qual cidade, rua, em qual prédio dessa rua? Se for uma viagem espacial, para qual planeta o personagem irá?

 “Nível de conflito é a posição da estória na hierarquia das lutas humanas”

Nível de conflito é a dimensão humana. O ambiente da estória não se resume a domínios físicos e temporais, mas também sociais. Sua trama focaliza os conflitos internos ou os subconscientes dos personagens? Subindo um nível, quais são seus conflitos pessoais? Subindo um pouco mais, como é a relação desses personagens com as instituições da sociedade?

Em “A mente brilhante” (2001), dirigido por Ron Howard e escrito por Akiva Goldsman e Sylvia Nasar, John Nash (Russel Crowe) é um matemático genial, porém, considerado estranho e egocêntrico. O jeito excêntrico do professor só é compreendido depois que a esquizofrenia é diagnosticada. O filme mostra os conflitos de Nash em vários níveis: dos internos, no tormento causado pelos fantasmas criados pela esquizofrenia, aos pessoais, nas crises do casamento, até os externos, na dificuldade de realizar seus compromissos acadêmicos.

Não importa se no subconsciente ou nas estrelas, sua estória pode ser ambientada em qualquer nível, mas tem que respeitar as possibilidades e a coerência.


Fonte: Story – Robert McKee

17 de setembro de 2014

O ambiente da estória 1

Segundo o professor de roteiro Robert McKee, o ambiente da história é quadridimensional.- período, duração,  localização e nível de conflito.

Na primeira dimensão de tempo, o Período, o roteirista terá que saber se a estória se passa na atualidade, no futuro ou no mundo da fantasia no qual a localização de tempo é irrelevante ou desconhecida.

“Período é o lugar de uma estória no tempo” – Robert McKee.

Na segunda dimensão de tempo, a Duração, o roteirista deverá saber por quanto tempo a estória se estende na vida dos personagens. No filme Os Maias (2014), dirigido por João Botelho, baseado na obra de Eça de Queiroz, a estória avança por três gerações, tendo o velho Afonso Maia à frente da trama como um personagem forte, homem de caráter, digno e educado.

Na comédia “Sideways – Entre umas e outras” (2004), que deu aos roteiristas Alexander Payne (também diretor) e Jim Taylor o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, a estória se passa em uma viagem de despedida de solteiro que dura apenas uma semana.

“Duração é a extensão de uma estória ao longo do tempo” – Robert McKee


7 de setembro de 2014

Originalidade x Clichê

Vivemos um período difícil para o escritor, pois as ideias originais são raras e o público, muito exigente. É comum vermos, nas novelas ou no cinema, estórias que já conhecemos. Muitos roteiristas “buscam inspiração” em cenas de filmes premiados. O clichê é um velho conhecido do público que, por sua vez, se sente insatisfeito por não assistir a uma estória original. Mas será que é fácil criar uma trama que ninguém nunca viu?

Para o mestre de roteiro Robert McKee, o problema da falta de originalidade (clichê) se resume em um único problema: “o roteirista não conhece o mundo de sua história”. Como lhe falta criatividade, algo que tenha em mente, ele vai buscar o assunto na televisão, nos livros ou no teatro. Ainda que o escritor busque ideias em matérias de jornais, por exemplo, ele tem que conhecer e ter a visão do mundo da sua estória. Sem isso, ele estará fadado a oferecer um prato de tédio para seu público.

 Segundo McKee, o ambiente da estória é quadridimensional, ou seja, tem quatro dimensões – período, duração, localização e nível de conflito.