31 de agosto de 2009
Ponto de Virada
Plot point ou ponto de virada nos dá uma idéia de complô. Para os ingleses, plot quer dizer intriga. Ponto de Virada são incidentes que mudam o curso da ação dramática, criando novos obstáculos ou apontando soluções para o herói.
Em seu paradigma, Syd Field estabeleceu onde, preferencialmente, eles devem acontecer: o Ponto de Virada I, entre as páginas 25 e 27 do Ato I. Ele é uma função do personagem principal. O Ponto de Virada II, por volta da página 85 ou 90 do roteiro.
Exemplo: No filme Billy Elliot, o Ponto de Virada I ocorre quando o menino decide trocar as luvas de boxe pelas sapatilhas de balé. O Ponto de Virada II acontece quando o pai desiste de obrigar Billy a treinar boxe, ao vê-lo dar um show de dança no ginásio, e resolve ajudá-lo em seu objetivo.
Em Central do Brasil, o Ponto de Virada I acontece no momento em que Dora entra no ônibus para levar Josué ao interior do Nordeste. Já o Ponto de Virada II ocorre quando Josué aponta a solução e Dora consegue dinheiro, escrevendo cartas para os romeiros da cidade de Bom Jesus do Norte.
Os roteiristas experientes aconselham os colegas iniciantes a seguirem os marcos propostos por Syd Field em seu paradigma, pois esta é uma forma de se evitar escrever demais e sem direcionamento.
Importante: Enquanto nas novelas de televisão o roteirista lança mão de novos personagens ou de subtramas para mover a história, no roteiro cinematográfico este tipo de recurso deve ser usado com cuidado. A estrutura do roteiro é linear (princípio, meio e fim), portanto,usar histórias auxiliares (dando cortes transversais na estrutura) para ajudar a desenvolver a ação é perigoso! Ainda que as subtramas se encontrem com o enredo principal no Ponto de Virada I ou no Ponto de Virada II, corre-se o risco de dificultar o entendimento da trama, frustrando o público.
26 de agosto de 2009
Apresentação, confrontação, resolução
O Ato I é a primeira unidade de ação dramática. Em aproximadamente trinta páginas, o roteirista terá que mostrar quem é o seu personagem principal, qual a premissa dramática e qual a situação dramática (as circunstâncias em torno da ação).
No Ato II, geralmente da página trinta à noventa, o protagonista enfrentará vários obstáculos para alcançar a sua necessidade dramática. É a confrontação. Nesta unidade, o roteirista corre o risco de se perder no roteiro, portanto, ao iniciar o Ato II pare e pense onde você está e para onde quer ir.
O Ato III é uma unidade de ação dramática que vai do fim do Ato II, aproximadamente na página noventa, até o final do roteiro. É importante ressaltar, que resolução não significa fim e sim, solução, senão, alguns filmes não teriam continuidade.
Como passar do Ato I para o Ato II, e do Ato II para o Ato III?
Segundo Syd Field, a melhor forma é criando Pontos de Viradas (plot point) no final dos Atos I e II.
Cena de preparação e de consequência
É aquela que prepara o espectador para uma cena dramática. Sua função é provocar expectativa.
Exemplo: as cenas que antecedem uma batalha decisiva num filme de guerra, uma prova final nas Olimpíadas, ou ainda, as que mostram um gladiador antes de entrar na arena.
Uma forma de manter o público na expectativa é anunciar sem revelar, alguma coisa que poderá ou não acontecer no futuro.
Cena de conseqüência
É aquela cuja função é relaxar a tensão, depois de uma cena dramática.
Exemplo: A cena em que a agente Clarice aparece dormindo depois de ter sido salva por Hannibal no dramático ataque dos porcos famintos.
21 de agosto de 2009
Sequência e cena
É uma série de cenas interligadas por uma mesma idéia. Um filme pode ter quantas o roteirista quiser. Assim como o roteiro, ela tem que ter início, meio e fim. Alguns escritores costumam batizá-las. Exemplo: seqüência Autódromo.
Cena
É a menor unidade da ação dramática e seu objetivo: mover a história para frente. Saber organizar bem em seqüências, essas unidades é fundamental para uma boa estrutura. Ao pensar uma cena, descubra o que você pretende com ela (objetivo), a sua localização (onde) e a temporalidade (quando). Pergunte-se: por que ela é importante para a minha história? Em que ela move a ação?
Toda cena tem um protagonista, que não é necessariamente o herói de sua história (pode ser o vilão ou um personagem secundário). Crie a cena pensando neste protagonista, naquilo que ele tem que fazer para dar andamento na trama.
Como na seqüência, toda cena tem um início, meio e fim. Há quem diga que o bom roteirista começa uma cena pelo seu fim, isto é, mostra o essencial, sem perda de tempo. Você não precisa revelar todos os detalhes da vida do personagem. Escovar os dentes, tomar banho, vestir a roupa, tomar o café da manhã, por exemplo, são atividades que fazem parte do TEMPO REAL. Você vai mostrar isso em poucos segundos ou minutos de acordo com o TEMPO DRAMÁTICO, ou, tempo estético. Pode-se dizer que cada cena tem o seu e que toda a estrutura da história tem um TEMPO DRAMÁTICO TOTAL.
Crie conflitos, visualize ao máximo, cenas fracas são aquelas em que os diálogos carregam o peso dramático!
A importância das 10 primeiras páginas
No cinema, o Tempo de Atenção (tempo que precisamos para saber se estamos realmente interessados em alguma coisa) é de 15 a 20 minutos, por isso, as dez primeiras páginas do roteiro são preciosas!
Para fisgar o seu público, mostre nas dez primeiras páginas:
1- Quem é o seu personagem principal.
2- Qual o assunto de sua história (premissa dramática).
3- Revele a necessidade dramática de seu personagem, apresentando as circunstâncias em que ele está inserido na sua história (contexto).
Seu filme deve começar e acabar com uma cena forte. Pode também terminar no mesmo local que começou.
Exemplo: Música do Coração (Music of the Heart) abre com uma seqüência de fotos de Roberta (Meryl Streep), do tempo da infância ao casamento e nascimento do primeiro filho. A professora de violino rasga sua fotografia ao lado do marido, revelando a situação dramática.
Em seu Manual do Roteiro, Syd Field nos ensina um bom exercício para sabermos se um roteiro é bom, testando o Tempo de Atenção:
Vá ao cinema. Depois do início dos créditos conte no relógio o tempo que leva para saber se gosta ou não do filme. Se após 20 minutos ainda não souber, pode ser um sinal de que os próximos 100 minutos serão de muito tédio.
Como começar o seu roteiro?
Para começar a escrever temos que saber onde queremos chegar.
O roteirista deve ser como o comandante de um navio. Como iremos mover uma história para frente sem saber em que direção? Quando isso acontece, o roteirista geralmente se perde e na ânsia de se encontrar acaba criando subtramas, inserindo novos personagens (às vezes dispensáveis) e finalizando mal o seu roteiro. A primeira lição para quem vai começar a escrever é: conheça o seu final!
19 de agosto de 2009
Títulos, legendas, intercut
Título sobre as imagens:
Um ano depois...
ou...
Título sobre as imagens:
Grécia. 399 a.C.
Intercut
Para colocar no seu roteiro duas pessoas conversando ao telefone.
TELEFONE TOCA.
Janete atende.
JANETE
Alô? Alô?
INTERCUT CONVERSA TELEFÔNICA
JÚLIO
Amor, estou passando aí pra te buscar.
Uma formatação correta pressupõe profissionalismo, além de simplificar o seu trabalho e o de quem lê o roteiro. Mas se você se sentir inseguro ou não souber que termo usar, simplesmente indique aquilo que pretende de forma clara, só não deixe de escrever por isso.
Montagem, série de planos
MONTAGEM
A) JK inaugura Brasília
B) Éder Jofre conquista título de “peso galo’ no boxe.
C) Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir visitam o Brasil
Já a segunda é composta por uma seqüência de pequenas cenas.
SÉRIE DE PLANOS
A) O ladrão corre e pula o muro
B) Carro de polícia chega com sirene ligada
C) Pessoas cercam a vítima caída no chão.
Flashback
INT. SALA/MANSÃO DE KARIN – NOITE
Ponto de Vista de Susan
sentada no sofá, vendo a mãe Karin despedir-se do cunhado Paul com um beijo na boca.
PLANO PRÓXIMO
Do rosto de Susan com raiva.
EM FLASHBACK
Menina de sete anos – Susan - escondida atrás da porta do quarto do pai.
POV de Susan
observando o pai doente, dormindo no leito e o tio dando-lhe uma injeção.O pai estremece e morre diante de Paul, que nada faz.
VOLTA À CENA
Só devemos usar este recurso quando ele realmente mover a história para frente, revelando uma ação ou algo do personagem. Ele funciona muito bem quando é uma ferramenta para o personagem revelar um pensamento ou um estado de alma. Existem histórias que são roteirizadas através de um grande Flashback como é o caso do premiadíssimo Titanic.
No filme O Sexto Sentido (The Sixth Sense), o Dr. Malcolm Crowe (Bruce Willis) só descobre que está morto no final. Em Flashback, ele consegue relembrar o momento em que encontra um antigo paciente na sua suite. O rapaz atira no médico e depois se mata. O Flashback é revelador e dá ao roteiro um toque de genialidade, principalmente pela forma como a história é desenvolvida.
Importante: procure não usar o Flashback de forma aleatória. Mostre informações sobre o passado de maneira criativa como, por exemplo: usando manchetes, artigos de revistas e jornais velhos, fitas de vídeos que podem elucidar fatos, álbuns de retratos, documentos antigos guardados, fotos tiradas do fundo do baú com dedicatórias comprometedoras, enfim, use a imaginação!
Ponto de vista, insert
Quando queremos que o público veja com os olhos do personagem o quê, ou, como ele está vendo.
POV do detetive Morgan
espiando, atrás do biombo, o ladrão ROUBAR as JÓIAS do cofre.
VOLTA À CENA
Insert
Inserção rápida de uma imagem que queremos destacar. Ex:
(...)
INSERT – BOLA MÁGICA
VOLTA À CENA
(...)
Planos
Nos roteiros modernos muito raramente se usa a palavra CÂMARA ou CAM.
Mas como descrever a ação sem usar CAM?
Foque aquilo que a câmera verá e pense no assunto de seu plano. Assim:
Janice entra no estacionamento à procura de seu carro. O assunto de seu plano é Janice.
INT. ESTACIONAMENTO-NOITE
Grande movimento de veículos, entrando, saindo ou disputando uma vaga para estacionar.
JANICE
ENTRA, levando duas sacolas de compras e procurando seu carro. Nervosa, ela quase é atropelada por uma moto na contramão. Pára,
se refaz do susto e finalmente avista o seu carro.
Para evitar a palavra Câmara, você pode usar...
Ponto de vista de...
Insert...
Plano aberto revela...
Outro ângulo de fulano...
Plano fecha em...
Plano próximo mostra...
Plano em movimento...
Ângulo invertido de...
Nas duas primeiras opções e também quando usamos Flashback, terminamos com VOLTA À CENA.
Subtexto
Exemplo: No filme Gilda, a protagonista vivida por Rita Raywoth, é uma mulher ambiciosa que usa sua beleza e sensualidade para subir na vida. Ela se casa, por interesse, com Ballin Mundson (George Macready), mas na verdade ama Johnny Farrel (Glenn Ford), gerente do cassino de Ballin. O marido é ciumento e possessivo. Numa cena, Gilda beija Johnny e os dois se surpreendem com um barulho vindo do lado de fora do quarto. Como a porta está aberta, de relance, vemos Ballin, de costas, descendo as escadas da casa, fugindo daquela situação. Sem qualquer diálogo, o público entende que o marido viu o beijo. O subtexto está implícito na atitude de Ballin.
Mais exemplos de Off screen ( O.S.)
Outro exemplo:
EXT. FLORESTA – DIA
JOÃO
sentado num toco de árvore, OUVE o RUÍDO de alguém aproximando-se.
BRUXA (O.S.)
Ei! Menino!
JOÃO tenta descobrir de onde vem a voz.
BRUXA (O.S.) (cont’d)
Venha! Venha me pegar! (gargalhada)
No exemplo, a bruxa está em cena, mas o menino não pode vê-la.
Quando o personagem continua a falar colocamos após o nome (cont’d), (cont.) ou ainda abaixo do nome (continuando).
BRUXA (O.S.)
(continuando)
A primeira opção é a melhor por questão de espaço. Caso o diálogo fique separado por uma quebra de página, escreva (MAIS) centralizado no final da página e na seguinte inicie com o nome do personagem que estava falando seguido de (cont’d) ou (cont.)
18 de agosto de 2009
Diálogo
Evite os diálogos repetitivos como, por exemplo:
A praia estava ótima! Tinha cada gato!
Adoro praia, principalmente com gente
A de hoje estava muito boa!
Voice over e off screen
São indicações que aparecem ao lado do nome do personagem para orientar como o diálogo será introduzido na cena.
Voice over (V.O.)
É usado quando o personagem não está em cena, ou está invisível no momento, escondido, por exemplo, atrás de um carro ou de um muro. A sua fala ou os seus pensamentos aparecem “colocados” por meio de gravação.
V.O. também é usado para indicar a fala de um narrador, uma mensagem na secretária eletrônica, etc.
No filme Hannibal, Hannibal Lecter (Anthony Hopkins) marca um encontro com a agente Clarice Sterling (Jullianne Moore) num parque. Ele se esconde pois sabe que a intenção dela é capturá-lo. No entanto, os dois conversam pelo telefone celular. Nós podemos vê-la falando no aparelho, mas a voz de Hannibal (também no celular) é “colocada”. Em alguns momentos, o público consegue vê-lo, ainda que rapidamente. Mesmo aparecendo vez por outra, a indicação do roteirista para a fala de Hannibal é V. O.
É usado quando o ator está em cena, mas não podemos vê-lo durante a fala.
No filme O Sexto Sentido(The Sixth Sense), quando o Dr. Malcolm pergunta a Cole se ele já fez redação de livre associação, o menino está escondido atrás do sofá. Podemos ouvi-lo e apesar de estar em cena, não podemos vê-lo.
Close-up, nomes e rubricas
Detalha algo do personagem ou de um objeto.
CLOSE-UP – DOS PÉS DE JOÃO
tentando pisar na chave para escondê-la.
Nomes, rubricas
Para introduzir os diálogos, os nomes dos personagens são escritos em maiúsculas. Logo abaixo do nome, o roteirista pode dar instrução para o ator (rubrica) sugerindo como ele deve interpretar aquela fala. Este tipo de instrução, no entanto, só deve ser usado quando for realmente indispensável. Partimos do princípio que, ao estudar o seu personagem, o ator profissional, melhor do que ninguém, saberá como interpretar a cena. Caso isto não aconteça, ele certamente contará com a orientação do diretor.
Exemplo:
INT. LABORATÓRIO DE MALVADA – NOITE
A bruxa Malvada anda de um lado para o outro. Espia pela janela. Depois vai até o fogão a lenha e confere a poção mágica, dentro do caldeirão.
MALVADA
asas de morcego?
Meu feitiço vai acabar estragando!
Alguns roteiristas também usam a palavra PAUSA para indicar que o ator deve dar uma “parada” naquele ponto da fala. E ainda, TOM (T) para mudar a entonação da fala ou a intensidade da interpretação. Essas instruções também devem ser usadas somente nos casos indispensáveis.
O que são Transições?
CORTAR PARA:
Está implícito que, se não houver outra indicação, a passagem de uma cena para outra será através de CORTAR PARA:
Por isso, muitos roteristas dispensam esta indicação em seus textos, usando-a o mínimo possível.
FUSÃO PARA:
É o corte lento de uma cena para a outra através da sobreposição de imagens.
No filme Titanic, com um CLOSE-UP nos olhos azuis de Rose (Kate Wislet), ainda jovem, em fusão com os olhos da mesma personagem Rose já na Terceira Idade, a ação dramática avança no tempo, retornando do flashback.
MATCH CUT:
É o corte para avançar no tempo ou para mudar de situação, usando um detalhe.
Exemplo:
1- No filme O poder de um jovem (The Power of One), o pequeno P.K. aos sete anos (Guy Witcher) treina box, num ringue, na África do Sul. O negro Geel Piet (Morgan Freeman) segura um saco de areia para P.K. O plano fecha nas luvas de boxe do menino socando o saco e quando abre, novamente, vemos P.K. já com 12 anos (Simon Fenton). O MACHT CUT para fazer a transição usa luva de P.K.
2- O filme Billy Elliot nos dá um exemplo criativo de MACHT CUT para indicar a passagem de uma estação do ano para outra.
Depois de ser ridicularizado pelo pai e pelo irmão na frente de Mrs. Wilkinson (Julie Walters), sua professora de balé, Billy (Jamie Bell) sai de casa. Ele anda sem rumo pelas ruas, dançando furiosamente como que para extirpar da alma, toda a sua indignação e revolta. Após dançar à exaustão, em pleno verão, senta-se em frente a um velho muro de zinco. Em CLOSE-UP, vemos seu rosto desviando de mosquitos. Os insetos são substituídos por pequenos flocos de neve e quando Billy levanta-se, vemos a rua coberta de neve. Com este MATCH CUT, percebemos que aquele estado de prostração o acompanhou até o inverno.
Ação
Lembre-se: em dramaturgia, a ação vale pela intenção e não pela execução.
INT. AMBULATÓRIO – NOITE
MARIANA PAIVA, cardiologista, ENTRA e vê a enfermeira verificar a pressão arterial da paciente. Ouve o SOM do microfone. Pára e escuta com atenção.
VOZ FEMININA (V.O.)
Atenção! Doutora Mariana, compareça
com urgência ao CTI.
MARIANA
entrega a PAPELETA para a enfermeira e SAI.
Indicações em maiúsculas
1- O nome de um personagem que aparece pela primeira vez no roteiro.
2- ENTRA e SAI (de cena).
3- A palavra CÂMERA, quando usada.
4- Os verbos (ação) e objetos que merecem destaque na cena.
5- Os sons criados na sonoplastia (TROVÃO, TIRO, BUZINA, etc)...
6- Transições como CORTA PARA: /FUSÃO PARA: / MATCH CUT: / FLASHBACK
17 de agosto de 2009
Algumas regras de formatação
A fonte certa é a Courier New 12.
O tamanho do papel é o Carta (27.94 cm x 21.59 cm)
Uma página de roteiro representa um minuto de exibição.
Numerar as cenas é a última coisa que se deve fazer, pois assim você poderá mudá-las de ordem sem perder tempo! Antes de imprimir o seu roteiro final, coloque os números na margem esquerda, assim:
25 – INT. CASTELO – DIA
São três as unidades de ação dramática: tempo, espaço e ação. Como isso funciona na prática?
Cabeçalhos
Eles devem determinar onde (espaço) e em que período do dia (tempo) a cena será gravada. Indicar se em interior-INT. (cenário do estúdio ou locação) ou do lado de fora, em externa – EXT.
INT. CASA DE PAULO – DIA
Você pode determinar o local com maior precisão, assim:
INT. CASA DE PAULO/PISCINA – DIA
Quando se deve mudar o cabeçalho?
TODA vez que mudar o local ou o tempo da cena (este último por causa da luz). Mas veja:
INT. SALA /CASA DE JANE - NOITE
JANE ouve um RUÍDO. DESLIGA a TV e corre para o...
QUARTO
olha em redor. Está tudo no lugar. Preocupada, volta para a...
SALA
onde pega o TELEFONE. Sem notar que o FIO está CORTADO tenta LIGAR.
Quando a personagem muda de ambiente temporariamente, você não precisa mudar o cabeçalho, exceto se ele for para um ambiente em externa.
NUNCA use: INT/EXT. CASA DE JANE - NOITE.
Uma câmera no olho do roteirista
O roteiro cinematográfico tem um código próprio, no entanto, em sua execução, o profissional deve respeitar as regras gramaticais do idioma em que está escrevendo, como, por exemplo, o uso de letra maiúscula no início de nomes próprios, pontuação, etc.
No Brasil, muitos profissionais preferem não seguir regras. Nos Estados Unidos, a indústria cinematográfica exige uma padronização visual e técnica de roteiros. Aqueles que insistem em fugir às regras correm o sério risco de ver seus trabalhos no lixo.
Os cuidados com a formatação
13 de agosto de 2009
Pontuação
Segundo Christopher Vogler, cada filme tem uma pontuação no final: “Uma história, tal como uma frase, só pode terminar de quatro maneiras: com ponto final, um ponto de exclamação, um ponto de interrogação ou reticências”. (A Jornada do Escritor)
Os filmes terminam com ponto final quando a imagem ou uma frase faz uma afirmação clara do tipo “E viveram felizes para sempre”, sem deixar dúvidas. Ou podem terminar com um ponto de exclamação quando a intenção é fazer alarde como nos filmes de horror e ficção científica: “Eles estão chegando!”
Em uma estrutura aberta, a exemplo das histórias que terão prosseguimento em outro filme como O Exterminador do Futuro (The Terminator) e Pânico, o ponto de interrogação fica no ar com a pergunta: “Será que ele morreu mesmo?” ou “Será que vai voltar?”
No caso de Central do Brasil podemos dizer que o filme tem um final aberto e termina com reticências. Dora torna-se mais sábia, deixa de ser vilã e parece que sua ferida psicológica começa a cicatrizar. Com muito sacrifício, ela consegue atingir seu objetivo, mas os erros do passado poderão pesar muito ainda em sua vida...
Importante: A Jornada do Herói não é um modelo rígido e pode variar de acordo com a necessidade da história e a criatividade do escritor.
A Ressurreição
O Elixir
Recompensa e castigo
Dora finalmente encontra os irmãos de Josué. Depois de muito sacrifício, sua recompensa é ver o menino num lar que ela, talvez, nunca pudesse lhe dar. O castigo de Dora é não poder voltar para casa, exatamente pelas ações erradas que praticou. Ela tem que tomar outro rumo, dar outra direção a sua vida.
Caverna Oculta
Impulsionada por Josué (Mentor), Dora retorna à Jornada e aprende as regras do MUNDO ESPECIAL. Entre elas está a responsabilidade e a honestidade. Sem se dar conta do que está fazendo, ao compará-la com Irene, o menino mostra como ela pode resgatar a auto-estima.
O encontro de Dora com a CAVERNA OCULTA acontece na pequena cidade de Bom Jesus do Norte. Sem comida, sem dinheiro e quase sem energia para prosseguir, ela passa pela PROVAÇÃO SUPREMA. Revoltada, diz que Josué nunca deveria ter nascido, pergunta se realmente merece passar por aquela situação e desmaia. O menino aponta uma saída e ela ganha dinheiro escrevendo para os romeiros da cidade. O mais importante é que agora Dora coloca as cartas no correio e não rouba para sobreviver.
No paradigma de Syd Field, este é o Ponto de Virada II de Central do Brasil, pois direciona a história para a sua resolução.
Travessia do Primeiro Limiar
Arrependida, Dora consegue raptar Josué, mas Iolanda e Pedrão prometem matá-la. Na rodoviária, Dora telefona para Irene que, por sua vez, cumpre o seu papel de Mentor elogiando: “Eu sempre achei que você era um bom soldado!”
Ao entrar no ônibus para tentar levar o menino até o pai, Dora faz a TRAVESSIA DO PRIMEIRO LIMIAR iniciando a JORNADA DO HERÓI. No paradigma de Syd Field esse é o Ponto de Virada I, pois a partir daí, a história muda totalmente de direção. Também nesse momento, o personagem Josué passa a funcionar como MENTOR.
Durante a viagem, Dora conversa com o garoto sobre sua infância, revelando um pouco mais sobre a personagem. A mágoa que ela tem em relação ao pai beberrão é uma ferida psicológica que não cicatriza. Qual é a atitude da personagem? É alcoólatra, tem baixa auto-estima e ainda por cima, é uma golpista. Essas faces da personalidade funcionam como GUARDIÃES DE LIMIAR que a impedem de crescer. Ainda na viagem, mais uma vez ela RECUSA O CHAMADO, pedindo ao motorista do ônibus para ajudar Josué a encontrar o pai, no interior do Nordeste. Dora abandona a JORNADA.
Recusa ao Chamado
Para a alegria de Irene (Marília Pêra), que também é uma mulher só, Dora leva o garoto para casa. Irena não concorda com as atitudes da amiga. As cartas que a ex-professora escreve para os fregueses, com o compromisso de colocá-las no correio, são simplesmente “engavetadas”. As falcatruas de Dora fazem da personagem um Herói Vilão.
Com a ajuda de Pedrão (Otávio Augusto), Dora vende Josué para Iolanda( Stella Freitas). Pedrão é sócio de Iolanda no tráfico de crianças. Os dois também são Vilões e nesse ponto da história, Aliados de Dora. Na transação, a ex-professora fica com mil dólares. É a RECUSA AO CHAMADO.
Com a máscara de MENTOR, Irene repudia a atitude da amiga, advertindo que o destino do menino deverá ser a morte para servir ao tráfico de órgãos.
“Tudo tem limites, Dora!” _ desabafa Irene, irritada. Dora perde a noite de sono e vive o seu medo diante do Chamado à Aventura.
Chamado à aventura
A pedido de Ana (Soia Lira) e de seu filho Josué (Vinícius de Oliveira), de nove anos, Dora escreve para o pai do menino, de quem a mãe está separada. Na carta, Ana revela que a criança sonha em conhecê-lo. Ao sair da estação ferroviária ela morre atropelada. Sozinho no mundo, Josué pede à Dora que o ajude a encontrar o pai. Este é o CHAMADO À AVENTURA do Herói. Nesse ponto, Josué funciona como o ARAUTO na vida de Dora.
O modelo da jornada do herói
MUNDO COMUM – (o contexto, a base, o cotidiano ou o passado do herói)
Em Central do Brasil, o dia-a-dia de Isadora Teixeira ou simplesmente Dora (Fernanda Montenegro) não é fácil! Professora aposentada, ela ganha a vida escrevendo cartas para os inúmeros analfabetos que transitam pela Central do Brasil.
À noite, embarca no trem num caminho solitário e ao chegar em casa, exausta, ninguém a espera. Esse é o MUNDO COMUM de Dora.
Guardiães de limiar
12 de agosto de 2009
SOMBRA
A energia está presente nos vilões e antagonistas que se aproximam do Herói para destruí-lo. Mas a Sombra não tem só qualidades negativas.
Hannibal Lecter foi capaz de decepar a própria mão que estava ligada à da agente Clarice por algemas, para não machucar a “sua garota”. O gesto humaniza a Sombra.
O antagonista pode não ser totalmente mau, mas o que faz dele Sombra são as táticas desleais que usa para tirar o Herói da “guerra” e conquistar o seu objetivo.
A energia também pode penetrar na mente do Herói dando-lhe sentimento de culpa ou paralisando-o pela indecisão.
ARAUTO
Normalmente, ele aparece no Ato I, impulsionando o herói a aceitar o Chamado à Aventura. O Arauto pode revelar-se de diversas maneiras: como um personagem, uma carta, um livro ou mesmo um filme cuja mensagem nos atinge num ponto em que precisamos mudar. O arquétipo pode ser negativo quando induz o Herói a uma aventura perigosa, que coloque em risco a vida dele. Quando isso acontece, é possível que seja aliado de algum vilão ou antagonista.
Pícaro
Ele traz consigo a energia do palhaço provocando risos, pregando peças ou mesmo chamando a atenção da platéia para situações absurdas. Sua energia é veloz e, ao provocar os ânimos e os egos, ele pode induzir o Herói à mudança. No folclore brasileiro, um exemplo deste arquétipo é o Saci Pererê.
CAMALEÃO
Nos thrillers, vampiros e lobisomens também podem ser Camaleões, assim como alguns vilões de contos de fadas, usam a máscara deste arquétipo para se disfarçar e enganar o Herói. É o caso da rainha má ao transformar-se na velhinha que oferece a maçã envenenada para Branca de Neve.
O relacionamento com um Camaleão pode gerar no Herói uma grande necessidade de mudança.
MENTOR
Os mentores são protetores mágicos que, além de orientarem o herói em sua jornada, o presenteiam com talismãs que devem ser conquistados com sacrifício.
Importante: nos thrillers, personagens Sombras podem usar a máscara de Mentores com o objetivo de confundir o Herói e atraí-lo para o perigo. Isso ocorre na cena do filme O Exorcista (The Exorcist), quando a menina possuída (Linda Blair) transforma-se e fala como a falecida mãe do padre exorcista. Trata-se de uma cilada para aflorar nele o sentimento de culpa e enfraquecê-lo.
7 de agosto de 2009
O herói
O Herói
A palavra vem do grego e sua raiz significa “proteger e servir”. Por isso, dizemos que o herói é aquele capaz de sacrificar-se em prol dos outros. Geralmente, o termo é usado para o protagonista, seja do sexo masculino ou feminino. O herói deve ser capaz de dar a vida pelos seus ideais, a exemplo do que fizeram grandes nomes da história como Sócrates, Gandhi e Martin Luther King.
O escritor não deve dar dois objetivos ao protagonista. Para que isso aconteça, ele deverá alcançar a primeira meta e só então, partir para a conquista da segunda. Nas histórias, os heróis costumam sofrer transformações diante de um aprendizado, mas existe um tipo que não sofre mudanças: o catalisador. Sua função é transformar pessoas e a sociedade. Em alguns momentos, eles funcionam como Mentores.
Os arquétipos na composição do personagem
Conhecer bem os arquétipos é uma excelente ferramenta para o escritor determinar a função de um personagem na história e saber se ele está desempenhando bem o seu papel na trama. Os arquétipos revelam qualidades boas e más que existem em qualquer ser humano, por isso, mais de um arquétipo pode se manifestar em um personagem.
Em certas situações, se olharmos diante do espelho pareceremos anjos. Em outras nos surpreenderemos usando máscaras de verdadeiros demônios. Esta dualidade faz parte da essência humana e dos personagens também!
Conhecer bem os arquétipos é como mergulhar fundo na alma e na mente humanas. Através deles, podemos dar aos nossos personagens mais verdade e profundidade.
Revelando o personagem
Diálogo não é tudo. Cinema é imagem!
Como mostrar personagens visualmente?
No filme O Sexto Sentido (The Sixth Sense), o Dr. Malcolm Crowe (Bruce Willis) pergunta a Cole (Haley Joel Osment), se ele já fez alguma redação de livre associação. Enquanto o médico explica o que a expressão quer dizer, simultaneamente, vemos a mãe de Cole espantar-se com os garranchos e palavras de ódio escritas nos papéis que encontra no quarto do menino. Frases como: “Eu te mato” ou “Cale esse maldito bebê”.
O exemplo revela o personagem Cole e mostra ainda como o diálogo pode ser substituído pela ação através da imagem.
A arte de escrever roteiro é isso: surpreender o público com o inusitado e da melhor forma possível: usando imagens.
No roteiro, não diga que o seu protagonista é simpático, mostre isso!
Dica:
Usar a técnica de idéias antagônicas ou as chamadas cenas “contra corrente” em roteiro pressupõe criatividade.
Aristóteles já dizia: “O efeito dramático vem daquilo que não é provável”
Procure fugir dos chavões. Não deixe o seu espectador ir à frente de sua história. Isso ocorre quando a cena é tão óbvia que ele já sabe o que vai acontecer. Sua história deve “esperá-lo na esquina”. Roteiro que não surpreende o autor dificilmente surpreenderá o público.
6 de agosto de 2009
Diálogo
“O poeta deve falar o menos possível por conta própria” – Aristóteles
Se você tem dificuldade ao escrever diálogos faça um exercício:
Durante uma conversa informal dos membros de sua família ou da turma da faculdade, no horário do intervalo, observe como as conversas são entrecortadas, e às vezes, até sem nexo. Enquanto uns falam sobre futebol, outros falam de uma peça de teatro e até dos gritos que ouviram, à noite, do apartamento vizinho.
Procure fazer a cena de diálogo com muito movimento, criando situações interessantes e com no máximo, três minutos, o que equivale a três páginas.
Atitude
No filme Melhor é impossível (As Good At It Gets), Melvin (Jack Nicholson) é sistemático, tem mania de limpeza e não gosta de animais domésticos. O que ele faz quando encontra, no corredor, o cachorrinho do vizinho? Joga-o na lixeira!
Billy Elliot, por sua vez, fica indignado pelo fato de seu pai insistir em que deve treinar boxe. O que ele faz? Dança, dança e dança...furiosamente!
Um personagem forte AGE, o fraco REAGE. Qual é a atitude de seu personagem?
Mudança
No filme Titanic, Rose( Kate Wislet) é infeliz porque não ama o noivo e vai casar-se por questões financeiras. Rose repudia a vida fútil que sua classe social lhe impõe. Seu sofrimento chega a tal ponto que ela tenta se jogar do navio, mas é impedida por Jack (Leonardo DiCaprio).
Depois de salvá-la, ele a leva para a terceira classe do navio, onde as pessoas dançam e se divertem.Rose acaba descobrindo que a felicidade está nas coisas simples da vida e apaixona-se por Jack.
Todos nós ansiamos por mudanças, principalmente quando chegam para abrir novos caminhos e nos dar esperança e boas oportunidades.
Obs: Em algumas histórias, o personagem central além de mudar, pode provocar transformações em outros que o cercam.
Ponto de vista
Qual o ponto de vista do seu personagem?
No filme A vida é bela ( La Vita è Bella), o ponto de vista do personagem Guido (Roberto Benigni) é fazer da vida uma fábula, com humor e leveza. Ele consegue defender o seu ponto de vista até a morte, num campo de concentração nazista, mesmo depois de ter sido separado de sua Dora (Nicoletta Braschi).
Ao ver Guido driblar a crueldade humana com atitudes hilariantes e inesperadas, o público se identifica com ele.
Um bom personagem é isso: faz você ver o mundo com os olhos dele!
Necessidade dramática
Para Syd Field, são quatro os elementos: necessidade dramática, ponto de vista, mudança e atitude.(Manual do Roteiro; Syd Field)
É o que o seu personagem principal precisa. O que ele quer? Vencer uma corrida? Conquistar uma viúva rica ou uma linda garota trinta anos mais jovem? O tesouro da arca perdida?
Se você conhece bem seu personagem, poderá descrevê-lo bem, não com adjetivos, pois roteiro não é literatura, mas pelas ações. Roteiro tem que ser visual. Não adianta você dizer que a bruxa é má. Afinal o que é ser bom ou mal?
Descreva a personagem praticando ações negativas, como por exemplo, abrindo um vidro de veneno e, em seguida, olhando e sorrindo para a maçã que ela pretende envenenar para matar a princesa. Ou então, queimando a foto da mocinha e dando uma gargalhada maquiavélica.
Conhecendo bem seu personagem, você pode criar conflitos para ele alcançar (ou não) o seu objetivo. Toda história tem que ter conflito.
No filme Uma babá quase perfeita (Mrs. Doubtfire),depois de separar-se da mulher, o personagem de Robin Willians traça um plano para ficar ao lado dos filhos. Esta é a sua necessidade dramática. Para alcançá-la, disfarça-se na melhor ama-seca de Hollywood!
Quando conhecemos bem nossos personagens fica muito mais fácil criar pontos de conflito que gerem ação.
5 de agosto de 2009
O anti-herói
Definir e formar o personagem
Para criar um personagem parte-se de duas categorias básicas: interior e exterior.
Conhecendo o interior...
Faça uma biografia do seu personagem. A vida interior acontece a partir do nascimento.
Onde ele nasceu?
Como foi a sua infância? E a juventude? Como é a família dele?
Fale das experiências na escola e nas brincadeiras de rua.
Ele tem traumas? E seqüelas?
Qual o tipo físico dele? Veste-se bem? Pratica esportes?
Tem alguma mania? Cacoete?
Ao compor um personagem não esqueça que ele deve ter qualidades e defeitos. Manias e trejeitos humanizam o seu personagem.
Na hora de batizá-lo, lembre-se de que a escolha do nome é muito importante. Os nomes variam de acordo com a classe social. Leve isso em conta!
Conhecendo o exterior...
O meio em que vive exerce influência sobre ele. Como o seu personagem interage com as situações e as pessoas que o cercam?
Que tipo de profissional é ? Cuidadoso? Preguiçoso? Meticuloso?
Sabe trabalhar em equipe? É querido pelos companheiros de trabalho?
É pacato ou um “bon vivant”?
O protagonista é o alicerce do roteiro, o coração, a alma e o sistema nervoso da história.Por exemplo:
Se o seu roteiro tem três assaltantes de ônibus, apenas um pode ser o protagonista. Um herói pode ser do tipo pronto a enfrentar a selva ou acabar com um batalhão.
No filme Tropa de Elite, dirigido por José Padilha, Urso de Ouro de melhor filme no Festival de Berlim de 2008, Wagner Moura é o capitão Nascimento, um policial considerado "incorruptível", embora comande uma equipe que desrespeita os direitos humanos se utilizando da tortura como tática de investigação. O personagem provocou grande empatia, chegando a ser considerado um “herói nacional”, por ser um policial “incorruptível”, despertando admiração em uma sociedade castigada pela insegurança e corrupção. Antes de chegar à tela do cinema, o povo já usava nas ruas os bordões: “Pegou geral” ou “01, pede pra sair!”
Mas o personagem pode também ser introspectivo e indeciso, daqueles que precisam de empurrão para tomar uma atitude. Qual é o tipo do seu herói?
Independente de ser bom ou mau, é importante que o protagonista seja crível. Siga o conselho de Aristóteles: “... se a personagem que se pretende imitar é por si incoerente, convém que permaneça incoerente coerentemente”
Um personagem principal pode ser um vilão?
Pode. Um vilão nem sempre sabe que é vilão. Às vezes, maltrata e até mata por razões psicológicas que merecem a compreensão do público. No filme Instinto (Instinct), o personagem vivido por Anthony Hopkins é um antropólogo americano preso numa cadeia de segurança máxima, por ter um comportamento agressivo e perigoso. Conhecendo os detalhes de sua vida, o público percebe que nem tudo é como parece, se identifica e passa a torcer por ele.
O que deve conter uma sinopse?
Para o roteirista brasileiro Doc Comparato, enquanto a “story line representa o quê (o conflito-matriz escolhido), a sinopse representa o quando (a temporalidade), o onde (a localização), o quem (as personagens) e, finalmente, o qual (a história que vamos contar)”.(Doc Comparato, Da Criação ao Roteiro)
Situando o tempo...
Em que data a sua história começa? Ela acontece num tempo contínuo ou pula, por exemplo, de uma década para outra? Ou de um mês para outro, ou de uma estação do ano para outra? Em Os Maias, a história de Eça de Queiroz avança em gerações tendo como elo entre elas, o velho Affonso Maia.
Localizando...
Indique o lugar onde sua história acontece. Em Nova Iorque? Numa nave espacial? Em Marte? Quais as características desse lugar? Um circo no interior do Brasil pode ser bem diferente de um circo em Moscou.
Onde não quer dizer apenas o lugar, mas todo o contexto social e histórico para revelarmos o cenário. Fique atento aos mínimos detalhes!
Numa história que se passa em 1960, uma mulher grávida não pode, por exemplo, fazer um teste de paternidade para provar quem é o pai de seu filho, porque naquela época, a medicina ainda não tinha esta técnica. Um homem falar num celular, em 1950, só em filme de ficção científica onde o personagem pode avançar no tempo e retornar com o aparelho!
Identificando o herói...
Quem é o herói de sua história? É uma pessoa? Um grupo de pessoas? Um cachorro chamado Bethoven ou Bingo?
O herói é o protagonista. Ao lado dele atuam os personagens secundários que surgirão à medida que a trama se desenvolve. Geralmente o herói tem um antagonista.
A sinopse deve traçar o perfil do personagem. Ao fazer isso pense em uma pessoa real, ou seja, tipo físico, ponto de vista, mudança, atitude, tiques e manias. Lembre-se: ninguém é perfeito. Para um roteirista é gratificante ouvir do público: “Conheço um tipo igualzinho àquele personagem”. Isso é o que chamamos de ponto de identificação.
Ao criar seus personagens, dê realce aos secundários. Eles merecem uma chance e alguns podem surpreender o público. Na hora de compor os personagens, lembre-se de que eles não são caricaturas, estas só são válidas para as comédias.
Em dramaturgia, história é sinônimo de ação dramática. Não importa o gênero que você escolha: drama, comédia, suspense, musical, etc. A linguagem do cinema pode retratar a realidade, mas na maioria das vezes nos dá a ilusão da realidade. Na ficção, a relação de tempo e espaço é diferente do mundo real. O roteirista pode parar, retroceder ou adiantar-se no tempo. A esta propriedade de avançar e recuar sem obedecer a uma ordem cronológica denominamos Tempo Dramático. Mais adiante falaremos sobre esse tópico com mais profundidade.
Sinopse ou argumento
Para que escrevemos uma sinopse?
Ela é o nosso primeiro contato com o produtor ou com o diretor e poderá ser usada também nas negociações com os patrocinadores. Com ela, é possível orçar (custo) e viabilizar a produção do projeto.
A sinopse é a segunda etapa depois da story line e é dirigida a um público alvo selecionado e bem específico: produtores, diretores, patrocinadores e atores.
A sinopse é um resumo da história e deve situar tempo e espaço, sem, no entanto, descrever detalhadamente os ambientes. A personalidade dos personagens deve ser descrita na sinopse, porém alguns roteiristas preferem se aprofundar na descrição do herói, antagonista e personagens secundários em outra etapa: o perfil dos personagens.
Importante: antes de apresentar uma sinopse não esqueça de registrá-la, pois, além de ser vendida, ela pode simplesmente... “mudar de dono”. De qualquer parte do Brasil, você pode registrar sinopses, roteiros e livros na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, mediante o pagamento de uma taxa, preenchimento de um formulário e apresentar pelo menos uma cópia do roteiro, com sua rubrica em cada página.
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Story line
3 de agosto de 2009
Atividade, ação, conflito
“A vida é ação e o seu final deve ser um modo de ação e não uma qualidade” - Aristóteles.
Quando pensar em assunto, pense em ação e personagem.
Exemplo: Assaltar um banco é uma ação física, uma perseguição de automóveis e uma corrida também.
Por isso, se você conhece as necessidades de seu personagem pode criar obstáculos que gerem conflitos. Como ele vence estes obstáculos é a sua história.
Importante: em dramaturgia a ação vale pela intenção e não pela execução. Toda história deve ter um conflito matriz e os conflitos que surgirem devem ser subordinados ao principal.
A idéia
Mas não basta ter uma idéia na cabeça para se fazer um bom roteiro.
Muitos escritores fazem o próprio banco de idéias. Segundo o roteirista americano Lewis Herman, as idéias podem ser encontradas em seis campos:
Idéia selecionada – é aquela que encontramos em nossa experiência, em fatos que vivemos no passado e no presente. Muitos roteiristas se utilizam desse tipo de idéia.
Idéia lida ou idéia grátis - é aquela que encontramos nos jornais e revistas. Uma boa reportagem policial ou um artigo sobre comportamento pode nos sugerir grandes histórias. No Brasil, antes de virar filme, Carandiru foi manchete de primeira página. Recorte e faça o seu banco de idéias!
Idéia transformada – muitos roteiristas buscam em obras literárias, idéias para os seus filmes. A obra do escritor inglês Willian Shakespeare tem servido de fonte de inspiração para muitos autores. Os grandes roteiristas costumam dizer que um autor amador copia, ao passo que um autor profissional rouba e transforma. Mas cuidado, transformação nada tem a ver com adaptação.
Idéia solicitada – é aquela encomendada por um produtor. Nos Estados Unidos, onde a indústria cinematográfica é bastante desenvolvida, este tipo de solicitação é muito comum e representa um grande desafio. Às vezes, o roteirista tem de escrever sobre assuntos que desconhece totalmente. Nesses casos, é necessário um verdadeiro trabalho de investigação. E tem mais: se o produtor não gostar de algum detalhe, não adianta reclamar, terá que reescrever!
Para ser um bom roteirista é importante ter humildade e persistência para reescrever um roteiro quantas vezes forem necessárias.
Grandes histórias surgem deste tipo de pesquisa.
Estrutura
Assim como o esqueleto sustenta o corpo, a estrutura sustenta a história no lugar. O roteiro bem estruturado deve observar as palavras de Aristóteles:
“As partes devem estar de tal forma entrosadas, que a suspensão ou o deslocamento de apenas uma, basta para que o conjunto fique modificado ou confundido”.
Da peripécia ao ponto de virada
Syd Field desenvolveu uma importante ferramenta para a técnica de fazer roteiros: o ponto de virada ou plot point. Plot vem do inglês e significa intriga, portanto, Ponto de Virada é um obstáculo ou incidente que muda o rumo ou a direção da história. Num filme, ele acontece geralmente em dois momentos: nos finais do Ato I e do Ato II.
Mas se existe um paradigma, por que nem todos os filmes alcançam o sucesso?
O paradigma é uma forma, não uma fórmula.
Para Aristóteles, a maior habilidade do poeta (escritor, roteirista) fica comprovada na forma como ele arranja os fatos para que o público sinta arrepios ou compaixão a exemplo do que acontece com quem assiste à fábula Édipo. É por isso que, mesmo seguindo o mesmo paradigma, nem todas as histórias alcançam sucesso.
Paradigma de um roteiro
Como é o cavalo que você tem em sua mente? Independente de ser um pangaré ou um puro-sangue, certamente terá sempre cabeça, dorso, quatro patas e um rabo. Este é o paradigma.
Para Syd Field, o roteiro se divide em três atos:
Ato I (início) - nele apresentamos a premissa dramática, o contexto, a relação entre o personagem principal e os outros que participam da trama.
Ato II (meio) – nele criamos obstáculos e saídas para que o protagonista (herói) conquiste o seu objetivo. É a unidade da confrontação.
Ato III (fim) - nele encontramos a resolução e não a solução ou o fim da história. O herói pode alcançar ou não a sua meta, mas é importante que ele tire de sua trajetória um aprendizado.
(Manual do Roteiro; Syd Field)
Este tem sido o paradigma usado pelo homem desde os primórdios, quando começou a registrar suas experiências na arte rupestre, nas tragédias gregas até os dias de hoje, nos filmes considerados campeões de bilheteria.
Profissionais mais experientes afirmam que não há regras para se escrever roteiros, mas para quem está começando, seguir determinadas normas facilita o trabalho.
Premissa dramática
Exemplo:
Beleza Americana(American Beauty) é uma crítica à maneira de viver da classe média norte-americana.
É importante isolar a essência de sua idéia em uma premissa dramática específica. Este é o ponto de partida do seu roteiro. Saber o que escrever é o primeiro passo. Faça entrevistas com pessoas que possam contribuir para esclarecer o seu assunto. Pesquisa é fundamental.
Roteiro- para que serve?
O que é roteiro?
Podemos dizer que um filme pode ser considerado bem feito, quando conseguimos entender boa parte dele, mesmo sem compreendermos o diálogo dos personagens, isto porque as imagens devem falar por si.
Mesmo que a ordem não seja exatamente esta, o roteiro deve ter uma estrutura, com início, meio e fim. O filme é um meio visual feito com cenas, seqüências e planos. Na linguagem do cinema: princípio (set-up ou exposição), meio (development ou desenvolvimento), fim (resolution ou desenlace).
Sem conflito não há roteiro. Observe que até nas histórias infantis existe conflito. Os três porquinhos viveriam tranquilos em suas casas se não houvesse um lobo mau para ameaçá-los. Branca de Neve não teria que fugir para a casa dos sete anões se não existisse uma rainha má.